10 de maio de 2009

Pedro Jacques de Magalhães

Pedro Jacques de Magalhães (1620 — 1688), 1º visconde de Fonte Arcada, foi um dos militares da Guerra da Restauração, que se destacou na Batalha de Castelo Rodrigo.


O Militar
Revelando-se como um firme opositor ao domínio filipino, foi preso na América espanhola a seguir ao golpe de 1 de Dezembro de 1640, juntamente com outros portugueses, de entre os quais figurava João Rodrigues de Vasconcelos e Sousa, 2º conde de Castelo Melhor, quando tentavam apoderar-se de uma frota espanhola carregada de prata, tendo como objectivo conduzi-la a Portugal. Pouco depois consegue fugir, regressando à Pátria, onde é provido no cargo de governador de Olivença. Ocupava este cargo em 1646 quando foi ferido num ataque militar a Valência. [1]

A 4 de Novembro de 1649 D. João IV confiou-lhe o almirantado da esquadra que escoltou a primeira frota da Companhia Geral do Comércio do Brasil, composta por 40 naus, que largou do Tejo com destino a esta colónia e ancorou em Pernambuco sem quaisquer incidentes com os holandeses. No dia 20 de Dezembro de 1653 voltou ao mesmo local da costa brasileira, desta feita como capitão-general, em parceria com Francisco de Brito Freire, com uma armada de 60 navios «bem aparelhados», numa missão de clara intimidação aos holandeses, a respeito dos quais haviam chegado à corte notícias de ataques a algumas naus da jovem Companhia Geral e de objecções diplomáticas aos seus direitos naquelas águas. Pedro Jacques de Magalhães não hesitou perante a oportunidade que assim se lhe oferecia para intervir nas lutas contra as invasões holandesas do Brasil. [2] A sua acção de maior relevo ao comando dessa armada foi o auxílio que prestou ao mestre de campo general de Pernambuco, Francisco Barreto de Meneses, no cerco de Recife, em 1654.

Voltando de novo a Portugal, «aparece-nos envolvido na maior parte dos combates que se vão travar até ao fim da Guerra da Restauração».[3] Com efeito, em 1658 surge como general de Artilharia do exército do Alentejo e no ano seguinte toma parte na Batalha das Linhas de Elvas, ocupando a patente de 1º mestre de campo deixada vaga pelo general André de Albuquerque de Ribafria, que aí foi mortalmente ferido. [4]

Em 1663, sendo já mestre de campo general da Beira, acorre outra vez ao Alentejo com as suas forças em socorro do exército do 3º conde de Castelo Melhor, governador das Armas desta província, o qual temia pela sua segurança, em consequência da recente ofensiva de D. João de Áustria. Toma, então, parte na conquista de Évora, de onde sai novamente ferido. É assinalada a sua presença «no Ameixial, voltando depois à Beira, e tomando parte, em 1664, na conquista de Alcântara, onde foi ferido mais uma vez, ficando aleijado duma perna» para o resto da vida. [1]

O infortúnio de Alcântara não parece ter refreado o ânimo do intrépido militar que, tendo sido promovido, nesse mesmo ano de 1663, a governador das armas da província da Beira, aliás no comando único dos dois partidos, o partido de Almeida ou de Ribacoa, e o de Penamacor ou de Castelo Branco,[5] viria a colher a maior glória da sua carreira do sucesso que logrou obter na célebre batalha de Castelo Rodrigo, a 7 de Julho de 1664. Haja em vista a descrição coeva que no Mercúrio Português o seu redactor, António de Sousa de Macedo, fazia dos factos. [6]
Em Outubro de 1665, temendo-se uma reacção dos castelhanos no Norte, Pedro Jacques de Magalhães juntou as suas forças com as dos condes de São João da Pesqueira e de Miranda do Corvo e foi com eles guarnecer a fronteira do Minho, de onde aproveitaram para fazer algumas incursões na Galiza, chegando a ocupar a fortaleza de La Guardia. Em retaliação, forças castelhanas irromperam pela raia de Trás-os-Montes, assolando as terras do Barroso, Montalegre e Chaves. [7]
Em 1668 fez parte das cortes de Lisboa que sancioram a deposição de D. Afonso VI e juraram o infante D. Pedro como príncipe regente e governador do Reino.[8]

Não tinha terminado ainda a acção deste militar ao serviço da coroa portuguesa, que entretanto pareceu ao conselho real sobejamente meritória pelo que, por carta datada de 6 de Fevereiro de 1671, o monarca lhe concedeu o título de 1º visconde de Fonte Arcada. Em 21 de Julho de 1675 Pedro Jacques de Magalhães, provido no posto de capitão-general da armada real, comandou uma esquadra de 11 navios de guerra que D. Pedro II ordenou fosse aprestada para patrulhar as águas do litoral entre o Cabo de São Vicente e as Berlengas onde actuavam os corsários mouros de Argel. A rota traçada visava amedrontar os mouros, mas «não se viram os resultados de tão custosa empresa», pois eles continuaram a atacar as frotas das carreiras da Índia e do Brasil. [9]

Entretanto, a 5 de Novembro de 1675, foi feito familiar do Santo Ofício. [10]

Nesse mesmo ano «foi enviado em socorro dos espanhóis que os mouros cercavam em Oran e conseguiu introduzir o socorro na praça, à custa de inúmeras dificuldades, sendo esta a última acção conhecida da sua agitada e notável carreira militar, que terminava com a sua morte em 1688». [1]

Dando por terminada a sua carreira militar em 1676, afigura-se-nos após essa data mais empenhado em assegurar a integridade do seu património, pois em 1681 instituiu formalmente o morgadio da Terrugem, o qual integrou o imponente palácio da Flor da Murta que havia sido construído pelos senhores de Alconchel, da família Pereira Faria, depois passado aos Meneses. A medida, porém, não resultou visto que o imóvel regressaria à posse desta nobre família por via do casamento de uma das suas filhas, Antónia Madalena de Vilhena, com D. António de Meneses de Sotto Mayor. [11]

Por essa altura, para além de senhor da casa dos Jacques de Magalhães, já seria comendador da ordem de Cristo e membro do conselho real e da junta do comércio. [12] Relativamente à comendadoria da ordem de Cristo, mencionada por Felgueiras Gaio no Nobiliário das Famílias de Portugal, podemos concretizar, crendo nas anotações do Pe. António da Costa, que se tratava das comendas de São Pedro de Aldeia de Joanes e de São Miguel da Foz de Arouce. De acordo com a mesma fonte, usaria ainda o título de alcaide mor de Castelo Rodrigo, também «por mercè del Rey D. Pedro o Segundo». [13]

Em 1684, na qualidade de general do mar, Pedro Jacques de Magalhães destacava-se no conselho de guerra dos restantes conselheiros de Estado, ao lado de outras figuras de proa desse conselho, que também deixaram bom nome na guerra da Restauração, designadamente Nuno da Cunha, conde de Pontével, Dinis de Melo e Castro, governador das armas do Alentejo e Francisco Barreto.[14] Era a devida homenagem ao homem que consumira a sua vida nas mais encarniçadas batalhas para a reconstrução da soberania nacional.


A família
Pedro Jacques de Magalhães foi o único filho varão de Henrique Jacques de Magalhães e de Violante de Vilhena. Desconhece-se a data precisa do seu nascimento, apontando-se o ano de 1620 como provável, mas é certo que faleceu no dia 8 de Dezembro de 1688. Pelo lado paterno foi bisneto de Henrique Jacques, cavaleiro da Ordem de Cristo e trineto de Pedro Jaques, fidalgo da Casa Real que esteve na batalha de Toro com D. Afonso V e instituiu o morgadio da Bordeira. [15]

Do lado materno descendia da aristocracia castelhana, pois seu trisavô foi Sancho de Tovar, intitulado 6º senhor de Cevico, que detinha o senhorio de Boca de Huérgano e de Cevico e seu avô foi o homónimo deste, Sancho de Tovar, copeiro-mor de D. Sebastião. Casou primeiro com Luísa Freire de Andrade que lhe deu dois filhos, sendo primogénito Henrique Jacques de Magalhães que foi alcaide-mor de Castelo Rodrigo e desempenhou outros importantes cargos militares e administrativos. Casou depois com Maria de Vilhena, de cujo enlace nasceram mais seis filhos, o terceiro dos quais, Manuel Jacques de Magalhães, veio a ser o 2º visconde de Fonte Arcada. [16]


As homenagens
Cumpre observar que antes de receber o título de visconde, Pedro Jacques de Magalhães havia já sido homenageado no campo da Salgadela onde se decidiu a vitória das armas portuguesas na batalha de Castelo Rodrigo, pois foi aí, próximo da localidade de Mata de Lobos, que João da Fonseca Tavares erigiu o monumento comemorativo que é hoje vulgarmente conhecido como «a cruz de Pedro Jacques». O monumento da praça dos Restauradores, em Lisboa é uma homenagem ao colectivo dos heróis da Restauração, mas outras homenagens, póstumas lhe têm sido particularmente prestadas em vários pontos do país, através de adopções toponímicas e patronímicas, sendo exemplos disso a existência de ruas e escolas que receberam o seu nome, assim em Figueira de Castelo Rodrigo, como em Alverca do Ribatejo.

Referências
↑ 1,0 1,1 1,2 BIBLIOTMilitares da Restauração, ECA DA S.H.I.P., Figuras General Ferreira Martins, Lisboa. Revista Militar, 1940, Ano XCII, Dez., Nº 12, III Centenário da Restauração do Estado Português.
↑ 2
Site
↑ 3 CASTELO BRANCO, Fernando: Pedro Jacques de Magalhães in Dicionário de História de Portugal, direcção de Joel Serrão, vol. IV, p. 139, Livraria Figueirinhas, Porto, 1990.
↑ 4 PROELIUM-Revista da Academia Militar, A importância das Linhas de Elvas para a independência nacional (Parte I), Carlos Jorge Cid Figueira, aspirante aluno de Artilharia.
↑ 5 Governadores das Armas – Portugal – Província da Beira, Blogue de História Militar dedicado à Guerra da Restauração ou da Aclamação, 1641-1668.
↑ 6 Mercurio Portuguez com as novas da Guerra entre Portugal & Castela, red. António de Sousa de Macedo, Jan. 1663-[Jul. 1667], Lisboa, 1663-1667.
↑ 7 SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de Portugal, vol. V, Editorial Verbo, 2ª edição, 1982, p.56.
↑ 8 CASTELO BRANCO, Fernando, Ob. cit.
↑ 9 SERRÃO, Ob cit., vol. V, , Editorial Verbo, 2ª edição, 1982, p.213. Citado por F. Nobre, História de Portugal,os reis que nos governaram - D. Pedro II, in Comunidades a Caminho, boletim paroquial, nº76, Set 2007
↑ 10
Site
↑ 11 Direcção-geral dos edifícios e monumentos nacionais, 23 Ago 2006
↑ 12 GAIO, Felgueiras, 1750-1831, Nobiliário de famílias de Portugal, Braga/ Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Araújo Affonso, 1938-1941, Braga, Pax, 17 vol, tomo XVI, p. 129.
↑ 13 COSTA, António Carvalho da, 1650-1715, Ob cit. p. 376
↑ 14 SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de Portugal,Ob. cit. p.322
↑ 15 GAIO, Felgueiras, 1750-1831, Ob. cit. pp 129-130.
↑ 16 Geneall.net

3 comentários:

  1. Caro Leonel:

    Foi com muita satisfação que recebi o seu comentário. O blogue das Aldeias Históricas de Portugal foi criado a pensar na divulgação da rede das 12 Aldeias Históricas. Concordo consigo quando diz que acaba por ser um pouco enfadonho, quando procuramos dar algum rigor na informação histórica das mesmas. Pretendemos com isso que as pessoas possam ter acesso ao conhecimento mínimo sobre a História de cada uma delas, para que possam visitá-las posteriormente com "outros olhos".

    Quanto à questão que coloca, a propósito da origem de Castelo Rodrigo, agradeço a sua contribuição. Pois é uma mais valia para que os nossos leitores possam compreender a grande complexidade da História das Aldeias , que nunca pode ser considerada como acabada , nem definitiva. Todos os dias surgem teorias à volta de questões, como esta que levanta. Mas são essas questões que despertam a vontade para saber mais sobre a nossa terra, que faz parte da nossa identidade e da nossa cultura portuguesa.

    Espero encontrá-lo lá mais vezes .

    Cumprimentos, Susana Falhas

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  2. Vim espreitar o seu blogue,mas virei mais tarde para ler com mais atenção.

    Vou deixar um link do seu blogue lá nas Aldeias Históricas para os meus leitores poderem conhecer o seu espaço.

    Cumprimentos, Susana

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  3. Meu prezado Leonel, com carinho retribuo a visita ao blog da catrop. Bem como, agradeço suas carinhosas palavras de incentivo e apoio!

    Parabéns pelo seu trabalho! Que essas primeiras incursões nos possibilite semear um boa amizade!!

    Abraço grande!!

    Maris Stella

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